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domingo, 1 de novembro de 2015

Vá lá um gajo compreender certas merdas!

   
Um irmão meu dizia-me um dia: "Ele acontece cada coisa… e eu sem culpa nenhuma.” É isso mesmo; há coisas do catano que acontecem… e nós sem culpa nenhuma.
“A Organização Mundial de Saúde alerta para os perigos da carne vermelha"
Não entendo nada disto! O meu avô comeu carne salgada desde pequenino; comeu carnes vermelhas, brancas, amarelas, deu grandes voltas nos enchidos e nos fumeiros e viveu cerca de cem anos. A minha avó seguiu-lhe os passos e atravessou quase cem anos numa boa. Ah, é verdade, ambos morreram de velhice e sem uma dor de dentes.
Quando era puto, certos peixes como o carapau, o chicharro, as cavalas e as sardinhas eram conhecidos como peixe azul e, por fazerem mal à saúde, eram um petisco reservado aos pobres e aos gatos dos ricos. 
Depois, não sei por que carga d'água, mudaram de ideias. Disseram que esses peixes eram ricos em montes de merdas e o pessoal desatou a comer sardinhas à toa. Assim, aquilo que outrora custava um tostão, passou a custar um euro e meio ou mais cada, sobretudo nas festas de Santo António.  
Seguidamente, as carnes brancas foram acusadas de provocar ácido úrico; a carne de aves passou a ter estatuto de comida de pobre; o rico nunca mais quis ouvir falar no assunto, deixou esse privilégio aos pobres e as churrasqueiras ganharam vida.
Com o sacana do bacalhau é que a coisa foi mais complicada de gerir. Aí, o pobre esteve-se nas tintas para os preconceitos dos ricos e não abriu mão do fiel amigo; tritura-o taco a taco com o rico, apesar de o rico só comer bacalhau asa branca, enquanto as suas mulheres usam calcinhas fio dental. Em contrapartida, o pobre não consegue chegar à asa branca e fica pelo graúdo, mas vê as suas mulheres usar calcinhas asa delta. Uns comem asa branca, outros comem asa delta. É justo!
Todavia, há muito que discuto, com uma admiradora minha, que a dentuça da malta não foi concebida para comer carne. A nossa dentuça é praticamente igual às dentuças dos burros, dos cavalos, das cabras, ou seja, de todos os ruminantes. Para nós chegava bem ter pastos, palha, favas e milho. Mas como não vamos em tretas, aprendemos a fazer batota. Arranjámos um estratagema dos diabos para comer carne, coisa que estava reservada somente aos animais felinos com caninos grandes, tipo tigres e leões, às aves de rapina como as águias, ou ainda aos necrófagos como os abutres.
Como ia dizendo, com o truque do fogo o pessoal passou a comer carne. Acontece que os animais que comem carne naturalmente nunca a cozinharam. 
Carne cozinhada não recomendo!...
Bem, regressemos ao que interessa. 
Gosto particularmente de presunto, de chouriço e de bifes do todo o género. Gosto de febras, de pezinhos de coentrada e de torresmos também. Hummm… os torresmos do meu avô, do Rui Vaz, no Pico de Antónia, onde o homem viveu até se cansar, eram uma coisa do outro mundo!
Agora chegou a vez de o pobre se vingar. A carne de vaca que até agora só provocou cancro nos ricos, vai ficar com o estatuto que as sardinhas tinham há cinquenta anos. Ou seja, o preço vai baixar, porque o rico vai cagar para as carnes vermelhas. Acho bem que seja agora a vez do pobre apanhar cancro nos intestinos.
Surge aqui uma janela de oportunidade para o pobre matar a barriga de misérias. Vai haver nas casas da maioria dos Portugueses grelhados de todos os géneros, a torto e a direito, à fartazana.
Costeletas de novilho, bife da vazia, pernil no forno… até o prior vai ficar sem o seu bifinho (entenda-se lombinhos) na brasa.
O rico, que se foda! Se quiser fugir das carnes vermelhas, que coma agora o coelho e o frango injectados com hormonas e assim os tipos ricos ficam, para saberem como elas mordem.
Eu vou continuar a comer carne crua vermelha, quando me deixarem, como sempre fiz com muito agrado.
Qualquer dia é a vez das lagostas!
Fazem-me lembrar a conversa do buraco de ozono . por enquanto prefiro conversar sobre buracos vermelhos.

Adérito Barbosa in olhosemlente

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