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sábado, 24 de dezembro de 2016

Carta ao Sr. Primeiro Ministro, José Ulisses Correia e Silva

Exmo. Senhor Primeiro-Ministro da República de Cabo Verde, Sr. Dr. José Ulisses Correia e Silva.

Chegou ao conhecimento dos Caboverdianos, através de uma informação em viva voz da Senhora Ministra da Educação, Maritza Rosabal, que estão a ser preparadas alterações no sistema de ensino de Cabo Verde, passando o ensino do Português para 2ª língua, enquanto o “Dialecto Crioulo” passa a língua materna, o que será implementado já no início do próximo ano lectivo. De entre várias questões e problemas que estarão em cima da mesa, registam-se as seguintes: Sendo esta uma questão sensível, não consta que essa intenção tenha feito parte do seu programa eleitoral, pelo que supostamente o seu governo não está mandatado para esse acto, até porque nunca houve um debate sério, nem consta que a sociedade civil Caboverdiana a tenha debatido de uma forma alargada. Sabe-se apenas que essa ideia pertence a meia dúzia de indivíduos que vegetam à volta do poder.

• Como será possível tal ideia, se a língua oficial de Cabo Verde é o Português, consagrada, aliás, na Constituição de República de Cabo Verde?

• A sucessiva degradação do ensino do português nas Escolas e no número de falantes, para não falar da escrita, prejudica o desenvolvimento cultural dos jovens estudantes de Cabo Verde desde o pré-escolar ao ensino superior;

• O quadro de pessoal docente está abaixo das necessidades, sem que se vislumbre qualquer medida para resolver este problema, deixando milhares de alunos à mercê da ignorância e do desfalecimento intelectual e cultural; A degradação e desvirtuamento da utilização da língua portuguesa a favor do crioulo é um atentado ao conhecimento;

• Este conjunto de questões suscitam grandes preocupações quanto ao sentido das medidas, quanto à sua abrangência e, essencialmente, quanto à qualidade dos futuros quadros;

• A estes problemas soma-se o antigo problema do crioulo falado nas outras ilhas, que continua a ser composto por sotaques, fonias das culturas das dez diferentes ilhas, a inexistência de material didático e de formação criteriosa, não existindo sequer qualquer estudo aprofundado do dialecto crioulo. O crioulo é sempre uma menoridade linguística que foi usada pelos escravos, por não entenderem nem o português, nem o flamengo Belga, nem o Inglês, sem esquecer que a única razão que leva os portugueses a ajudar o arquipélago reside no facto de Cabo Verde pertencer aos PALOP e ter como língua oficial o Português;

• Acresce, ainda, o facto de a Sra. Ministra ser de origem Cubana, vivendo uma realidade cultural mais próxima de Cuba, com os seus costumes e muito longe do português, mas sim perto do Espanhol Cubano ou Castelhano;

• A Senhora Ministra, sabe-se, é casada com um alto funcionário da Câmara Municipal da Praia, activista ferrenho do crioulo e que, segundo se sabe, há longos anos luta pela implementação do crioulo, num puro culto de ignorância, privilegiando o isolamento do resto do mundo - não se vendo outra coisa no horizonte, senão prejudicar a geração de jovens num futuro próximo;

• Como explica que Angola, com todo aquele poderio económico ainda por explorar, com cerca de 25 milhões de habitantes, e cerca de 48 dialectos, consegue fazer com que os seus cidadãos falem todos praticamente o português correctamente e Cabo Verde não? Como explica que S. Tomé, sendo um território minúsculo, consegue manter os seus cidadãos a falar o português correctamente e Cabo Verde não? Como explica que Moçambique com cerca de 26 milhões de habitantes consegue que os seus cidadãos falem português, apesar das influências dos países da Commonwealth? Como se explica que Timor se empenha muito para manter o português nas suas escolas e Cabo Verde não? Será que os Caboverdianos são mais inteligentes que os outros? Olhe que não, olhe que não, sr. Ministro!

• Explica-se tudo apenas pela teimosia dos nossos governantes, pelas influências do jogo do poder em quererem ser diferentes dos outros, primando pelo isolamento num mundo cada vez mais global. Esse isolamento reflecte-se na boca dos governantes Caboverdianos, quando nos discursos os ouvimos falar incorrectamente o português. Quando um líder africano fala, sabemos logo se é Caboverdiano ou não, pelo simples facto de se expressarem muito mal na língua oficial do seu próprio País. Isso é triste, preferia ouvi-los a exprimir-se em crioulo e teríamos assim a certeza de que ninguém os escuta nem os entende.

Assim sendo, ao abrigo do direito à indignação, venho por este meio pedir que abandonem a ideia da implementação do crioulo nas escolas de Cabo Verde, o que não é mais do que um exercício de vaidade e de pura ignorância, prejudicando o futuro dos jovens.
Não obstante do que atrás foi exposto, lembro a V. Exa que o português é a quinta língua mais falada no mundo, com 244 milhões de falantes e é uma das línguas oficias na Comissão Europeia e na ONU. Também não se entende o discurso assumido por V. Exa, no que se refere à intenção de Cabo Verde entrar para o espaço Schengen. Cabo Verde já fez parte integrante da Europa, quis sair nos anos de alucinações dos Independentistas, agora quer entrar como falante do crioulo na Comunidade; como explica isso? – É caso para perguntar se os governantes estão bem da cabeça. Pode dizer: – Ah, o Primeiro-ministro português António Costa é a favor… Pois sim, ele andou a entreter os Caboverdianos com uma questão, que afinal, não é questão - ele é muito hábil e bastante engenhoso na diplomacia.

O comunicado do Governo, saído esta semana, foi um exercício patético - querer explicar o inexplicável. Saiba V. Exa. que não vamos permitir tamanha ousadia em defesa dos interesses culturais dos jovens estudantes e do futuro de Cabo Verde, que bem precisa de gente capaz. Acreditando na sua seriedade e honestidade intelectual, peço-lhe em nome de uma boa educação, que faça a Sra. Ministra abandonar essa ideia, que não tem pés nem cabeça.

Utilizando uma expressão sua: - Nós, a massa crítica, esperamos nunca o ver “DOENTE COM SINTOMAS DO PODER”. Votos de uma boa governação.
Feliz Natal e um excelente Ano 2017.

Melhores cumprimentos
Adérito Barbosa

Adérito Barbosa in olhosemlente

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