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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Sinto sede

Sinto sede...
só água desta garrafa bebo.
Sentado nesta soleira, juro que estou bêbado, vejo fusco a vida
e sinto a noite a vir contra mim.
Solto as amarras do coração e escuto o fluir do líquido na garganta que dói e os loucos versos de paixão que esta minha pele transpirada recita aos esqueletos mortos do armário.
Fiquei só porque não posso ter
o direito sobre o que não é meu!
Agora sou poeta, outrora fora pintor de quadros que dei cor e forma de corpo de mulher.
Lasco um pouco mais a mente, entro num lugar vazio, vejo no espelho tímido a filha de Coronel.
Não veio e talvez jamais venha, Escuta!...  A noite foi longa e nela perdi-me nas voltas que tracei. Quero saber os mistérios da meia noite e a tua boca a ler os sonetos do teu caderno, enquanto fluo-me
ao encontro da deriva do mar bravio
e revolto.
É melhor olhar de novo do alto de mim, dobrar as pernas ainda assim me permito sentar.
Pensar sem negar,
vestir sem rasgar a tua pele em mim, contornar as margens do imaginário, preencher os espaços vazios e deixar-me cair no vácuo de Galileu,
flutuar e tecer os fios da solidão de pernas para o ar.
Quero ir embora de mim
nesta noite de sede, febre e de arrepios.

Adérito Barbosa in olhosemlente

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