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quarta-feira, 11 de julho de 2018

AS BOCAS DAS GRUTAS


Estas psicólogas e parapsicólogas nunca estiveram à boca de qualquer gruta - seca ou inundada. Mesmo assim,  puseram-se  em bicos de pés, sem vergonha nenhuma  e com a maior desfaçatez deste mundo - dias a fio a opinar sobre o resgate dos rapazes aprisionados na gruta tailandesa. Fiquei a saber que os portugas são experts em resgates, nos estúdios das TVs.
Essa gente deu bitaites como se alguma vez tivesse feito algum resgate, com excepção de um mergulhador profissional português que, com muita propriedade e sem nunca especular, falou sobre o resgate que ele próprio fez, na Guiné, a um sobrevivente de um navio que se afundou, ficando no  seu interior durante 72 horas, graças a uma bolha de ar em que permaneceu durante esse tempo. Segundo ele, a operação demorou quatro horas (há um vídeo desse resgate a circular no YouTube).
Os outros indivíduos falaram sem vergonha do evento que estava a decorrer, como se os operacionais envolvidos nessa operação fossem todos uma cambada de incompetentes.
Descansado fiquei, ao saber que, se houver uma situação idêntica em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo, envia-se para lá a Judite de Sousa e todo o pessoal comentadeiro da CMTV, mais uns quantos paspalhões e paspalhonas para fazerem o resgate.
Que eu saiba, nenhum caso similar em gruta inundada aconteceu em Portugal - muito menos numa gruta com aquela extensão e com aqueles sifoēs.
A quantidade de licenciados em grutas, a dar palpites, foi impressionante. Falaram sobre o assunto, completamente às cegas, sem terem informação do centro de comando e sem conhecerem a situação.
Houve um artista com ar de seboso, que afirmou na SIC Noticias que o início do resgate poderia ter sido feito mais cedo.
Um outro anormal opinou que teria sido possível retirar as crianças de uma só vez, umas a seguir às outras, em vez de efectuarem a extracção em três fases, como está a ser feito. Outro artista vomitou  severamente contra as autoridades tailandesas, por terem enviado para a gruta um mergulhador sem experiência, que acabou por morrer – a realidade diz tratar-se de um militar de 38 anos, primeiro sargento salvo erro, fuzileiro naval e mergulhador de combate com 19 anos de experiência.
Depois disto tudo, dei comigo a pensar: - Por onde andava essa gente, quando há trinta anos desapareceu um jovem nas grutas da Serra da Arrábida que, até hoje, dele nada se sabe?
O desfile dos psicólogos foi vergonhoso. Quantas pessoas resgatadas das grutas portuguesas tiveram apoio psicológico dessa gente?
Se este país não conseguiu resgatar o Pedro Dias à superfície, nem conseguiu resgatar a  Maddie McCann, imagine-se a trabalheira que seria resgatar duma gruta a equipa de doze miúdos e o seu treinador, que seguramente teve um papel preponderante, sobretudo no estado de espírito da equipa em situação tão adversa.
Seria giro ver a Judite no deserto do Saara  à procura do escaravelho  e a CMTV, de lupa, à procura de sangue.
Com ânsia de brilhar, a locutora disse:
“ Infelizmente não aconteceu o pior”

Adérito Barbosa in olhosemlente

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