Especado no silêncio do nabeiro
vagabundo e chorão no meio de nada
cheio de medo das palmas
de ninguém.
Às vezes só consegue escutar o ruído do mundo ao longe
noutras esquece-se
de escrever na areia fina
o silêncio que arrepia o deserto nos dias de tempestade
e a resposta não sei
tem pressa em viver hoje,
amanhã devagar e morrer só depois do luto e da festa
sonha soprar o vento.
de leste para oeste
de sul para norte
de nordeste para sudoeste
de noroeste para sudeste
da Noruega para a Suécia, dali para acolá
de mim para ti
de ti para eles
deles para outros
do mar para a serra
do chão para o ar
das batatas para as papaias
do açúcar para o sal
da água para as rochas
do nada para todo o lado…
para todo o lado…
tudo numa perfeita e harmónica confusão do caos.
Para que ninguém entenda nada!
E ri-se, o maroto do espantalho…
Quer viver o amainar da brisa no meio da regueira das couves e do escaravelho
e ainda rebolar na samarra, na anca da mondadeira.
Quer ver o pescoço sufocado da gola alta,
o fumo sair de um tubo de escape do brinquedo abandonado.
Quer ouvir o choro de uma boneca sem braços,
de cabelos arrancados sem piedade pela criança que brinca na soleira da porta.
Quer ouvir o apito desalvorado do comboio em marcha atrás
sentir o silêncio húmido e frio das estrelas apagadas
ver o vulcão moribundo
a fumegar dentro do cachimbo...
Quer de tudo um pouco para fazer da sua vida um circo.
Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot
sexta-feira, 6 de julho de 2018
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