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terça-feira, 20 de agosto de 2024

Presidente não é Deus




A conversa vazia de Janira sobre "concentração concertada" só confirma o que já sabíamos: ela pertence à mesma corja que Neves. A senhora, está deslumbrada pela própria arrogância, crê-se uma espécie de Têmis africana, uma deusa do parlapié. Mas, enquanto a verdadeira Têmis defendia a justiça com base na verdade, equidade e humanidade, Janira deturpa tudo isso. Para ela, a justiça é amoral, um jogo sujo, onde a perseguição a Neves é justificada por sua própria distorção da realidade. Denunciar a promiscuidade presidencial, para ela, é obra de quem não passa de uma cambada de malandros.


Enquanto Têmis colocava a justiça acima das paixões humanas, Janira rebaixa-se às poucas vergonhas do Neves, tratando amantes enfiadas no palácio como se fossem esposas legítimas, viajando ao lado dela como se nada fosse. Segundo Janira, a culpa não é dele, apesar do Neves ter afirmado em entrevista que ele mesmo autorizou os pagamentos. Janira acredita que a justiça é personificada nela, mas ao contrário de Têmis, que é cega e imparcial, Janira tem um olho bem aberto e o dedo no prato da balança, trapaceando descaradamente fazendo batota.


Agora, na sua fantasia delirante, Janira autoproclama-se deusa da justiça de Cabo Verde, a única que compreende as leis e a ordem, a protetora do pobre oprimido Neves. No papel de deusa das leis, Janira tornou-se na segunda esposa divina de Zeus Neves, sentando-se ao lado de Débora para confortá-la, enquanto protege a promiscuidade desenfreada de seu amado líder.


Será que foi dela a brilhante ideia de dizer a Neves que uma amante vale tanto quanto uma esposa? Janira está tão convencida de sua suposta sabedoria, que acredita ser comparável à da Minerva. Para ela, a sua opinião é a única que importa, mais do que a própria Justiça. Janira não vê crimes nas trapalhadas de Neves, e a balança dela indica que há uma diferença enorme entre o eventual julgamento de Neves e o de qualquer cidadão.


As recompensas e punições, para Janira, seguem a lógica corrupta do PAICV: os ricos comunistas do partido gastam à vontade, enquanto o povo continua na miséria, feliz por ver Neves esbanjar o dinheiro do estado nas suas aventuras promíscuas. Janira não simboliza outra coisa senão a imoralidade, carregando a tábua da lei para a sede do PAICV como se a justiça fosse um brinquedo nas mãos dos comunistas.


Janira recusa a ver que Neves cometeu abuso de poder, que ele é um déspota, um Robin Hood às avessas, que rouba os pobres para dar à namorada. Janira fecha os olhos para o facto do Neves ter avacalhado a figura da esposa e a dignidade de uma Primeira-Dama, e na sua cegueira seletiva, ela apoia as trapaças do Neves tornando-se cúmplice desse espetáculo grotesco.



Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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