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terça-feira, 8 de abril de 2014

Papagaio

 Caro José Rodrigues dos Santos

Como eu pago a taxa audiovisual na factura da luz e trabalhas na televisão que eu sustento, vais ter que levar comigo, vais ter de me gramar um bocadinho.
Francamente, pá! Eu até te tinha em boa conta. Sempre comprei os teus livros, sempre os li com avidez, mas desconfiado pela enorme quantidade de informação histórica reunida  e por tanta informação do mundo financeiro, que emprestas à tua escrita.  Este assunto já foi motivo de um colóquio aqui em minha casa - se tinhas, ou não, uma equipa que te dava as dicas.
Voltando ao que interessa.
No princípio, quando deste os primeiros passos na RTP, achava-te giro, tipo puto com orelhas grandes, olhos pequeninos, risonho e muito engraçado. Ao longo dos anos, tenho vindo a ficar farto de ti. Acredita que estou mesmo fartinho de ti!!!
Esta carta que te dirijo vem a propósito da cena deplorável que protagonizaste, qual cão raivoso, atirado contra o Sócrates, na arena do telejornal de domingo, dia que não sei precisar
Antes de continuar, quero deixar bem claro que me estou nas tintas para o Sócrates e para todos os outros políticos, para o professor Marcelo, para todos os comentadores e analistas e ainda tenho tempo para nutrir por vocês, jornalistas, algum desprezo também. São vocês quem põe e tira os governos, quando e como querem. Quando os políticos dizem que existem para lutar pelos interesses do povo, isso é treta, assim como é treta, quando os jornalistas dizem que têm o direito de informar.
Podiam dizer assim: “ Estamos num negócio e estamos a olhar pela nossa vidinha.”
Ó Zé dos Santos, atiraste-te ao Sócrates como um cão raivoso, pá! Fizeste-lhe um ataque cerrado, tentaste levá-lo para um beco sem saída, entalá-lo e aí passar-lhe a corda pelo pescoço, apertar e esperar pela agonia do homem. Parecias estar a fazer um trabalho por encomenda. Meu caro, segundo sei, o homem é comentador como a Manuela, o Ganda Noia, o Marcelo Marcelo, fazedor de casos entre outros e não é um entrevistado teu. Ele é comentador semanal. Tentaste esfaqueá-lo pelas costas, mesmo à má fila. Tu não sabes e muita gente também não, mas eu sei que o homem que convidaste é marrão e, independentemente das merdas que, como todos os políticos, ele fez por aí, reconheço que o gajo é esperto. É tal e qual como convidar um amigo para ir à tua casa para falarem sobre as putas, beberem umas cervejas e verem futebol,  às tantas sem que nada fizesse supor e na presença das garinas,  desatas a dizer que ele tem a pila pequena e desferes um ataque, na esperança de ficares tu com as miúdas todas. Parecia que estavas num debate com um líder da oposição. Além de lhe dizeres que ele tem a pila pequena, disseste que ele era um incompetente e ainda por cima tinha ejaculação precoce. Ó rapaz, isso não não se faz!
Zé, parecias estar possuído, ou a soldo de alguém. Tu eras um arquivo de papéis, de citações e relatórios…
És tramado, pá! Tentaste apanhar o Sócrates numa armadilha para pombos; eu sei que o tipo não é santo, mas isso que fizeste é porco. Tu devias ser moderador, orientador, isento! Diria mesmo que naquele papel devias ser neutro, ter a neutralidade de quem modera um debate político. Esqueceste isso. Tu parecias ter virado um mastim, mas dos rafeiros, dos que não conhecem regras mínimas de convivência. 
Estava eu na minha sala, sentado no sofá, a ver e a pensar que estavas mesmo a pedi-las, quando o tiro foi para o teu pé; além de malandreco como todos os políticos, que ele é, ainda é mais esperto que tu, não deixou que o amesquinhasses (para não dizer que lhe cagasses em cima),  contra-atacou com esta: "Eu compreendo o seu ponto de vista. Você acha que se deve comportar no sentido de colocar-se no papel de advogado do diabo… estou a citá-lo bem?” E acrescentou, quase de imediato: “Até o advogado do diabo pode ser inteligente e pode perceber que não basta papaguearmos tudo o que nos dizem, para fazer uma entrevista".

 - Magistral, foi aqui que ele te chamou papagaio. "Repetes o que ouves dizer". Acusaste o toque e disseste: registo o insulto. - Que querias tu ó zé? Quem vai à guerra dá e leva, sabias disso?

Teve resposta pronta para todas as tuas rasteiras; fez lembrar um duelo à moda antiga; o Sócrates foi mais rápido que a própria sombra e atirou certeiro. Só lhe faltou soprar o cano da pistola, antes de o voltar a colocar no coldre.
E uma coisa posso eu dizer: -Tem juízo, rapaz! Foste esquisito, deselegante e mal-educado. Todavia, sem querer, proporcionaste-nos um belo momento de televisão.

Resultado da contenda: Sócrates 10 - Zé Rodrigues 0.
Se estavas a mando de alguém, lixaste-te. Já faz algum tempo que comecei a considerar-te um cagão, mas naquele domingo tirei as minhas dúvidas.
Devias saber que o malandro do Sócrates não é pateta. Ele não estrilha, mas muda sempre de esquina. Tu estrilhaste e não mudaste de esquina nenhuma e por isso parecias um cão a ladrar. O Sócrates é teimoso que nem uma mula, obstinado como um mabeco, que nem te conto, conheço a peça e tenho-o na conta dos inteligentes.

Quanto a ti, já te tive em melhor conta!

Nota de rodapé: como escritor que és, acredito que não levarás a mal o estilo de linguagem, que está em consonância com o estilo que usas na tua escrita.
Sempre podes analisar o meu estilo no http://olhosemlente.blogspot.com e boa leitura para ti

Adérito Barbosa in "olhosemlente"

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