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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Porque faço sessenta anos

Quando alguém carrega o fardo do pensamento conturbado nunca consegue responder à chamada, porque quem não presta, por si mesmo se destrói.
Paro para reflectir sobre a vida e as minhas escolhas; parei várias vezes para reflectir e reavaliar as minhas ideias, busquei novas oportunidades, fiz novos planos, refiz alguns antigos, idealizei metas e sonhei.
Inspirei-me com incríveis textos de grandes escritores e ensaístas que li nas madrugadas no meio da solidão, partilhei e partilho as minhas emoções na escrita. Assim cheguei aos sessenta anos; vejo os netos a crescer e sinto que só tenho  trinta. Olho a elipse da trajectória da minha vida e vejo uma espiral de emoções a subir de uma maneira que não sei explicar, como se fosse até ao infinito.
Não mudei nada nesses anos que passaram - nem rugas, nem barriga grande.  Foi preciso reinventar-me muitas vezes, levantar-me, voltar a cair e evitar as tentações. Num paradoxo, sempre fui
 incompreendido no amor, mas sempre me senti amado.
Contudo, provei o veneno amargo da ingratidão dos ingratos, daqueles a quem dei tudo - até pedaços de mim levaram e hoje nem olá dizem!
Mas aqueles que um dia me ajudaram, ou me amaram sabem onde estou, como os amo e ouvem sempre a minha voz, quando menos esperam.
De ora em diante preciso de amor e paz para viver devagar o meu futuro, o tempo que tenho à minha frente. O resto quero descobrir nas estrelas, no romance que escrevi, na calmaria do mar e na brisa que virá no momento certo, para me ouvir dizer que nestes sessenta anos consegui o mais difícil - ter três inimigos falseadores da genética, o que é obra!
Que Deus me ajude a conservá-los por muitos anos.

Adérito Barbosa in olhosemlente

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