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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Pensão chunga

 

O bom, a pensão chunga, o camareiro alcoviteiro e o porteiro intriguista

Neste verão uma grande amiga minha ofereceu-me o livro autobiográfico do tio Balsemão.

O livro é grande, tem seiscentas e tal páginas, escrito em letras miudinhas para poder caber nele todas as cenas. Como podem imaginar o livro fala da família dele, em particular do malandro do tio Chico de quem fiquei fã, das  miúdas que subiam às árvores no quintal à frente e ele aproveitava para mirar as cuecas delas, da vida escolar, dos pais, das empresas da família, das viagens, do jornal, das peripécias do PREC, das fitas da Helena Roseta, especialista em desfazer consensos e em enfiar a cara naqueles lindos cabelos a chorar sempre que era apertada, do eminente fuzilamento que o Presidente Eanes queria fazer a Helena Roseta, das intrigas do amigo e companheiro do jornal, Marcelo, “ olha quem“,  do Mário Soares a quem reconhece ter sido um estadista, da política portuguesa em geral e da maravilhosa cena num hotel com Samora Machel  Presidente de Moçambique!

Também fiquei a saber que o tio Balsemão prestou serviço militar na Força Aérea e  que sempre nutriu especial apreço pelos pára-quedistas portugueses o que me agradou bastante.

O livro do tio Balsemão, está superiormente bem escrito, relata factos históricos importantíssimos e fala das muitas peripécias da vida portuguesa, quando ele era uma pedra importante do xadrez político português!

Fiquei a admirá-lo pela sua soberba  capacidade de escrita simples, pela sua honestidade intelectual e também pelo seu humor.

O tio Balsemão é um senhor, é o  bom desta festa!


Agora vamos ao mau da festa!

O mau é o livro do tio Governador Carlos Costa.

Para variar desta vez foi oferta do meu camarada do CFS, MOR/PQ PINTO. 

Os meus amigos acham que eu não tenho quintal para tratar, nem guitarra para tocar, nem gata para cuidar, nem relva para cortar, nem mulher para amar e mandam-me livros a torto e a direito e eu aceito-os - só os consigo ler nas madrugadas de insónias.

O livro do jornaleiro Luís Rosa disfarçado em escritor, é uma coisa muito estranha. 

O coitado do Costa Governador falou da sua  pobre família a que pertencia, da Faculdade da Economia do Porto, da carreira de economista, dos amigos, dos compadrios entre os economistas do Porto. Falou das guerrinhas entre ele e o Centeno e outros, das disputas das cadeiras dentro do Banco de Portugal, rezou as peripécias dos bastidores  dos processos da resolução dos bancos, mostrou números reais em jogo, falou das cartas, das reuniões, dos almoços e almoçaradas no banco de Portugal e das intrigas de Isabel dos Santos e Costa o primeiro contra ele.

Falou bem do Mário Soares e das preocupações dele para com o país quando o Sócrates teimava em afundar o barco, falou mal do Sócrates, do Salgado, do seu antecessor Victor Constâncio, do Costa “primeiro’ do Centeno, do Partido Socialista em geral, falou mal dos banqueiros em particular e muito mal da quase totalidade dos governantes socialistas.

Falou bem do Cavaco, do CDS do Passos, da Maria Luís, da Cristine Lagarde,  dos amigos da Comissão Europeia, muitíssimo bem da troika e muito bem da quase totalidade dos políticos do PSD e até consegui falar bem dele próprio!

Quando acabei de ler o livro, o tal que os banqueiros portugueses recusaram a ler, fiquei com esta ideia:

O livro do ascoroso Luís Rosa trata ao fim ao cabo do seguinte.

Conta a história da vida de uma pensão chunga de 1/2 estrela gerida pela chungosa Bernardete Paulina (BP) onde o Luís Rosa trabalha como porteiro, toma nota de quem entra e de quem sai, o Costa governador é o camareiro alcoviteiro que só quer ver as nódoas dos fluidos sexuais nos lençóis, que pelo cheiro sabe a quem pertence. 

Como o Costa tem o mau beber, sempre que bebe uns copos perde o tino e desata a botar a boca no trombone e conta em voz alta tudo o que se passa na pensão e não se coíbe de dizer quem é, e quem não é corno - mas nunca fala que a mãe dele também frequenta a pensão!

O Alcoviteiro Rosa sempre que encontra o Costa na tasca oferece-lhe um copo e o resto já sabemos.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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