poeta.adérito.barbosa.escritor.autor.escritor.artigos.opinião.política.livros.musica.curiosidades.cultura Olhosemlente

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Vou de cangalho


Hei, tu aí, que lágrimas são essas?

Não contes a razão que isso não interessa para nada. 

Está na hora de acabar com o choro e começar a revolta.

Não me contes nem nem uma vírgula da tua vida

Porque não preciso saber do assunto!
Vamos falar de coisas bonitas
Das boas e das más notícias                                                                                         
Das conversas da esquina ao fim da tarde.

Das  boas nada! Só das más e da nossa falta de sorte,

Da morte e da bala perdida,
Do pedido de clemência do padre para o cadáver                                                              
E ainda para o escravo que vai ser presidente.

Ninguém de nós subirá ao cadafalso, 

Mas eles sim.                                                           
Eles subirão depois da ceia.

Repara nos olhos tristes dos ratos

Que saíram do frigorífico do tio Chico
Que pena, nem queijo, nem migalhas de pão.
Levanta esse copo e faz comigo um brinde,
Um brinde aos idiotas.

É urgente colocar a corda no pescoço desses abutres.

Os direitos deles acabam onde começam os nossos,                                                         
Mas quando é que acabam os direitos deles?
Escuta o gemido! Consegues ouvir?!

Pois é, são gemidos do povo moribundo a ser copulado à força toda 

Porque ainda ele esperneia
Não vai ter o orgasmo não, está a sentir dores
Porém vai continuar a pagar para ser sodomizado                                                             
Até ao dia do seu finado.

Vai pagar impostos, taxas, internet, TV

Comida, água, alcatrão, casa, esgotos e Edp
Carro, bicicleta, brinquedos, colégios                                                                               
A teta a secar e eles a chupar. 

Em forma de agradecimento vai votar todo contente,                                                      

Alguém lhe mentiu dizendo que o voto é a sua arma. 
A mim quiseram mostrar-me o caixão para a viagem 
Todavia recusei!

Preferi escolher um cangalho…                                                                                         

Assim falarei com o cangalheiro pelo caminho                                                                  
E tenho a certeza que comigo levarei as minhas ideias.





Adérito Barbosa in olhosemlente



Sem comentários:

Enviar um comentário

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...