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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Só não entendeu o toque do Daniel Pinéu quem não quis.

Só não entendeu o toque do Daniel Pinéu quem não quis.

Vi o programa do Daniel Pinéu na SIC, tecendo comentários a propósito dos ataques de Paris e afirmando, entre outras coisas, que a lavagem ao cérebro que o estado islâmico faz aos seus aderentes é igual à que o exército português faz aos jovens de 17 anos, geralmente filhos da classe média baixa e baixa.
O Daniel Pinéu sabe, como eu sei, que os cabecilhas do estado islâmico eram oficiais do exército de Saddam, outrora alunos da doutrina americana. Eles também estudaram subversão pelo mesmo manual por onde eu estudei no meu CFS. São lamentáveis os actos de terror tanto em Paris como em Espanha, tanto em Beirute como no avião russo que caiu no Sinai. À luz da doutrina militar, estes atentados são actos subversivos.
Por isso entendi o que o Pinéu quis dizer. Alguém, habilmente, tirou a conversa do contexto, manipulou-a e lançou-a para a discussão, para angariar simpatia. No meu tempo, salvo algumas excepções, os filhos da classe alta e média alta e alguns pobres (poucos) seguiam para as faculdades e tiravam cursos de medicina, engenharia, direito, arquitectura, etc. Os filhos da classe média, média baixa e dos pobres, salvo algumas excepções, seguiam na sua maioria para os correios, para as fábricas, para a lavoura, para a GNR e PSP,  ou  ofereciam-se como  voluntários para as forças especiais das Forças  Armadas, como era o caso dos paraquedistas e ainda havia outros que não seguiam para coisa nenhuma. 
Era esta a realidade da sociedade portuguesa do meu tempo no que diz respeito aos jovens.
Havia alguns, os filhos aburguesados de oficiais, que viram uma passadeira de relva verde nos paraquedistas, estendida, expressamente, para eles. Entravam para o CGM, donde saiam, em média, 6 a 8 aspirantes, num universo de 60. Tantos aspirantes quantos os filhos de oficiais daquele contingente. Há casos raros de filhos de oficiais terem saído furriéis, tal como a maioria da turma a isso estava condenada; a coincidência era que esses sete ou oito aspirantes, filhos de oficiais, mais tarde já como tenentes milicianos, iam frequentar o CFO e regressavam oficiais SG.
Se não me falha a verdade, no exército essa premissa existia para permitir que os sargentos pudessem progredir para a classe de oficiais. Ora aqui é que está a tramóia. Os oficiais SG, que estão indignados com o Sr. Pinéu, deveriam ter ficado indignados, quando eles ocuparam, ilegitimamente, as vagas dos sargentos. O que ele, Pinéu, não disse, se calhar porque não sabe, é que nos páras aquilo era um ninho de promoção a oficial, sobretudo para os filhos dos oficiais, de forma enviesada e muitíssimo pouco clara. 
Foi a isto que assisti e que vi, entre 1979 e 1991. Foi isso que os nossos camaradas nunca viram ou não quiseram ver ou não souberam ver.

Adérito Barbosa in olhosemlente


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