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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A vida é um circo (forma proxeneta).

Nota prévia: O texto tem linguagem pouco ortodoxa. Reporta apenas para dentro do contexto da escrita "a vida é um circo 3ª versão" e não mais do que isso. Boa leitura todos.

A vida é um circo (forma proxeneta).

Hoje encontrei: - "Olá Ab, tenho saudades tuas e tenho saudades minhas. Dá-me tempo!"

Não queiras imaginar como me senti aliviado, quando li: - "Dá-me tempo"!...  Ainda bem que queres tempo. Não te preocupes, rapariga, tens todo o tempo do mundo e mais algum que te ofereço. Olha, eu estou à espera que o sol se ponha, para que os meus bares ganhem vida e as luzes encham a minha alma. Quando estava contigo, eu não sentia prazer na vida e estava a morrer aos bocados. Agora sinto-me saltitante, ávido do calor das mulheres a roçarem em mim e a fazerem-me broche como se tivessem clitóris na garganta. Ainda sinto o cheiro a sexo da Nany e o perfume da Lurdes, que a noite passada, aqui no meu carro me chuparam. Sinto-me vivo como nunca. Agora sim, sinto-me machão. Tenho sete funcionárias que trabalham para mim! Sinto-me belo e uso brilhantina no cabelo, calças justas, só brancas e pretas, uso botas à cowboy com biqueira de aço e protectores no tacão e tenho uma pistola por causa das coisas. Todos os dias acordo com a boca a saber a papel de música, uma maravilha!!!
Agora sou conhecido pelo Tim de Arouca. Agora sim, sinto o peso de ser pai de cinco filhos dos quais desconheço o paradeiro e patrão de sete funcionárias. Nem imaginas o trabalho que tenho, quando as recolho todas as manhãs bem cedinho e a gestão que faço para saber com qual delas tenho que ficar. Sabes lá tu das horas que perco a fazer a contabilidade das receitas da noite!? Não tenho  culpa de ser desejado por elas todas. Nenhuma delas diz que tem dores de cabeça, sabias? Agora sim, sei o que é ter admiradoras. Aqui em Lisboa, divertimo-nos à  farta. Aqui vive-se! Não há tempo para sonhar, porque a vida já é um sonho. Aqui, somos escravos da nossa própria tesão, sou agora um homem com uma história para contar. Às vezes esquecemo-nos que as putas também têm sentimentos, mas olha que têm, e mais, elas são cheias de modernices. Acham que o proxenetismo e o putedo é a coisa mais normal do mundo, até deixam que  filhos/as menores durmam em casa com  namorados/as, eheheheh… Não é como aí na terra,  onde a tua mãe estava sempre a controlar, de modo a que tudo fosse feito como ela queria. Se ao menos a tua mãe fosse séria como a minha, tudo bem… mas, infelizmente, ela não presta! Ah, ia-me já esquecendo;  sabias que cá há homens que gostam de fazer a vez das mulheres? Eu acho isso mal, não acho justo. Se, por natureza, tenho direito a sete mulheres e meia, se há gajos que se passam para o outro lado  e ainda há outros tantos que vão com esses e se somarmos as lésbicas, é fácil compreenderes que é muito difícil gerir tanto mulherio, daí andar tudo ao mesmo. Mesmo assim acontece que elas nunca estão contentes com os homens que têm. Querem sempre experimentar mais e mais, sempre mais. Depois vêm com a conversa das doenças. Outra coisa;  também ouvi dizer há dias que até o tal de Carlos Castro, não sei se ouviste falar dele, vai ter uma rua em Lisboa com o seu nome. Fui ver quais eram os critérios para se ter direito a uma placa toponímica  e descobri que é só para cidadãos que façam coisas muito relevantes para o país, como por exemplo  Eusébio, Amália, Salazar ou mesmo Alves dos Reis. Estive a pensar cá com os meus botões nisto e concluí que a única coisa de importante que ele fez, foi ser apalpado e comido por uns putos paneleirotes como ele. Entretanto, andaste a chatear-me o tempo todo, porque eu andava de olho na Francisca. Olha, eu era uma múmia, um burro!...  Sabia que tinhas um fraquinho pelo Xico da Zefa, mas agora podes ir foder com o gajo, que estou nas tintas para ti e não quero saber disso para nada.

Ressuscitei lentamente, saí do sarcófago, sou como Cristo, passei da morte para a vida e da vida para a glória.
Aqui há estações, escadas rolantes, há comboios, fazem-se linguados e como linguados quase todos os dias, beijamo-nos em todo o lado, há salões de chá, restaurantes, esplanada, cigarros e muitas mulheres, vinho verde e tudo, aqui há de tudo! Nem frio faz, vê lá tu! Há gente de todos os feitios, sinto orgulho em mim e na vida que tenho. Já não consigo ver, nem mesmo ao longe, ainda que me esforce, aquele teu sorriso desenhado nas nuvens, que te dizia ver, quando estávamos a fazer amor, sem nunca me referir ao teu bigode!
Neste momento estou com um pequeno problema. O meu Porsche vermelho de jantes pretas está com pouco ar nos pneus. O meu cão Ernesto está constipado, o meu gato Flash foi uns dias para a casa da vizinha por causa do cio da gata dela. A piscina tem 3 folhas de plátanos a boiar e filtros por mudar.  As sebes que circundam a mansão precisam de ser podadas. O meu jardineiro tem faltado, porque conheceu uma sueca e não sei dele; por isso estou um bocadinho perdido com tanto trabalho por fazer. A vida de rico é uma chatice, como podes imaginar!
A única coisa que me faz falta é ouvir o barulho do piloto do Manta a mil e duzentos metros, a puxar pelos cordões de suspensão, seguido de profundo silêncio. Só tenho saudades de ser Para-quedista!

Adérito Barbosa in "Dança do Cego" * A vida é um circo (forma proxeneta)

Fotografia tirada em 1990 Junto Cristo Rei em Almada numa demostração de saltos (BOTP1) para os alunos das Escolas da Região de Lisboa. Paraquedas que utilizei “Manta”


Adérito Barbosa  in olhosemente

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