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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Conferência “Pedro, Grécia e Aníbal

Conferência “Pedro, Grécia e Aníbal

Estou nas nuvens só de pensar que, Sócrates, Platão e Tucídides estão em Atenas; que  Heródoto, o primeiro dos historiadores, se desloca da Turquia e Arquimedes, o matemático, de Siracusa, na Sicília; Tales de Mileto, o primeiro filósofo ocidental voará de Meleto, que hoje pertence à Turquia e de lá também vem Heráclito, o homem da dialéctica, que vive na região de Éfeso; Aristóteles vem de Estagira, que pertence à Macedónia; também  Euclides, o “pai da geometria”, que vive em Alexandria, no Egipto, estará presente, bem como  Pitágoras, o tipo que desenvolveu o célebre teorema com o seu nome, que vive na ilha grega de Samos. Até Zeus e  Rodes fizeram questão de marcar presença neste evento! Estou mesmo nas nuvens!
O congresso decorreu no Mausoléu de Halicarnasso e, por sorteio, coube-me usar da palavra para abertura dos trabalhos.
As ideias mestras do meu discurso assentam todas as baterias sobre a Grécia, país outrora inventor da democracia e hoje vítima da sua própria invenção e da crise humana que se vive.
Depois de ter dado as boas vindas a todos e de ter feito os agradecimentos da praxe, comecei por referir várias iniciativas recentes, que foram notícia em Portugal:  -  As bocas porcas do Pedro e Aníbal, quando disseram que as reivindicações do povo Grego eram contos para crianças!
- Trago comigo a carta aberta, subscrita por trinta e duas personalidades do meu país que representam o actual pensamento português, que…
- Vocês em Portugal têm pensadores?- interrompeu Mileto.
- Personalidades, sim...Muitas! Nós até temos um clube de pensadores que de vez em quando  reúnem e põem-se  pensar,  (riso na sala). Depois do silêncio imposto por Zeus, coordenador dos trabalhos, continuei:- Como ia dizendo, trago comigo a carta aberta enviada ao primeiro-ministro, Pedro de Portugal, assim como uma cópia em DVD do discurso punitivo que este proferiu e da reprimenda autoritária de Aníbal aos Gregos. Trago ainda em forma de notas soltas, os pensamentos do Mário Soares sobre as causas de uma política destruidora com a qual, segundo o próprio, nada tem a ver. Trago também a tese “delírio especulativo” do Louçã, que desmonta toda a narrativa de como foi construída “uma pilha de dívida dos países europeus”. Entretanto, o Tsipras diz que “devastaram o Estado” e “criaram uma enorme crise humanitária”, mas o Aníbal e o Pedro, acham que a crise humanitária só se verifica na Grécia e que em Portugal isso não é verdade, pois não ocorrem os mesmos factos.
Caros conferencistas, cidadãos europeus, conto com a genialidade do vosso saber! Ajudem-me a perceber o que vai na mente do Pedro e do Aníbal!
Tales de Mileto levantou-se, tomou a palavra e disse: coisa boa não será!
- A esperança em possuir um cérebro grande é o único bem comum a todos os homens; Não havendo cérebro grande, não há lugar à esperança.
Mileto prosseguiu com pensamentos profundos e filosóficos e, considerando Aníbal vítima da pequenez do seu cérebro, desmistificou o passado épico das drogas de Pedro. Subi às nuvens, mas desta vez para começar a sentir vergonha de ser governado por tais personagens. A terminar, o insigne filósofo concluiu:
 - São estas algumas das razões por que Pedro e Aníbal são realmente pequenos. Caro pensador da era moderna, Adérito que governantes vós tendes?
Sinto-me muito confortável e recordo, à semelhança de vários oradores, alguns factos históricos de que não devemos esquecer-nos, se quisermos compreender melhor os tempos presentes. Em 1832, ainda o Pedro e o Cavaco nem eram matéria nem anti-matéria, foi el-rei D. Pedro IV convidado para ser o primeiro rei da Grécia moderna. Como o rei era bruxo, não aceitou e o trono foi parar às mãos de Oto da Baviera, filho de Luís I. Foi por vontade das grandes potências europeias, designadamente do Reino Unido, França e Rússia que, na conferência de Londres de 1832 se criou este produto do pensamento europeu, e assim se escreveu a tragédia da Grécia. Logo no primeiro capítulo, em 1883, sobreveio uma tragédia; a Grécia entrou em bancarrota.
A Comissão Financeira Internacional, acudiu, sem cerimónia e com menos piedade e menos conversa.
O historiador Nicolas Bloudanis descreveu a tragédia da seguinte forma: - “O Estado só funciona de forma intermitente e quando funcionou menos mal, tratava-se de um Governo autoritário, onde as liberdades políticas e civis estavam limitadas. (…) Na memória colectiva Grega o Estado é um Estado autoritário de que convém desconfiar”.
Platão, que se mantivera muito atento às intervenções anteriores, tomou a palavra e solenemente declarou:
- Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz. Quanto ao teu Pedro, quero lembrar que quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado. Homem grande, pequenez cérebro, estúpida a ideia.
Sócrates tomou a palavra e disse:
 - Não é difícil escapar da morte. Todo o soldado sabe que basta sair fugindo. O mais difícil é escapar da maldade, pois ela é mais rápida que nós. A voz do teu Pedro é, indubitavelmente, a ressonância do pensamento dos poderosos.  
Imediatamente a seguir, Arquimedes acrescentou:
 - Dêem-me uma alavanca suficientemente longa e um suporte suficientemente forte, que eu poderei sozinho movimentar o mundo. Quero dizer, a cabeça do Pedro e a do Aníbal para dentro de uma retrete.
Heródoto contrapôs: - “De todos os infortúnios que afligem a humanidade, o mais amargo é que temos de ter consciência de muito e controle de nada; só o teu Pedro é controlado.
 Tucídides tomou a palavra e, muito mal-humorado, acrescentou:
- O mal não deve ser imputado apenas àqueles que o praticam, mas também àqueles que poderiam tê-lo evitado e não o fizeram. A ignorância é audaz; a sabedoria, reservada. Entre os chefes de Portugal abunda a primeira a seja a ignorância.
 Aristóteles, com voz monocórdica e pausada, fez o seguinte reparo:
- Digam ao Pedro e ao Aníbal “Quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem, ou é Deus.” Como eles pensam pelos outros, não são nem uma coisa nem outra. São nada!
Euclides da Cunha, um brasileiro que fazia escala em Atenas e que ao ter conhecimento do congresso, para lá se dirigiu, entrara na sala minutos antes; sem que alguém o esperasse, desabafou:
- Há mais de um mês que me agito e trabalho — de graça — num país em que se inventam os empregos para a vadiagem remunerada. Zeus falou no milagre; milagre não é dar vida ao corpo extinto, ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...Nem mudar água pura em vinho tinto...Milagre seria encontrarmos algo nas cabeças de Pedro e Aníbal

Adérito Barbosa  in olhosemente

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