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terça-feira, 6 de setembro de 2016

... não é tudo tão mau assim


Uma cidadã Cabo-verdiana, residente em Antuérpia (Bélgica), fez publicar um artigo nas redes sociais, cheiinho de salamaleques e muita mentira à mistura, dizendo que na Ilha do Sal há praias privadas e que ela própria foi barrada por um segurança de um hotel que não a deixou passar, etc...
Enfim! Um chorrilho de mentiras, que fez com que muita gente, desconhecendo a realidade, viesse à praça pública fazer ruído.
Eu sei que nem tudo está bem, mas não é tudo tão mau assim! Perante a desonesta e grave declaração, a título de resposta, vim a terreiro com o seguinte artigo, dirigido à Senhora Marízia:

"É pena que muitos dos Cabo-verdianos  desconheçam a realidade das nossas ilhas. É fácil, mas  perigoso, falar de coisas que não sabemos.
Na visita que fiz à Ilha do Sal, durante o mês de Agosto, procurei esclarecer-me sobre o funcionamento e a orgânica do Município de Espargos, sobre a situação das Salinas de Pedra Lume, sobre as concessões e exploração dos hotéis na ilha, assim como sobre os dividendos económicos que tudo aquilo gera.

Da investigação, fiquei a saber que as concessões dos hotéis, a venda de terrenos, a Electra (entenda-se água e electricidade) é tudo tratado pelo Governo central  e não pela Câmara Municipal de Espargos. Segundo soube, a Câmara apenas trata do lixo e das chatices. Todos os recursos que a ilha gera com o turismo vão direitinhos para o Governo da Praia.
Disseram-me que a Electra deve milhões à Câmara Municipal de Espargos e que, quando a Câmara, relativamente às facturas da eletricidade, pediu encontro de contas à Electra, esta cortou a luz à Câmara Municipal, num puro exercício de abuso.

As salinas foram entregues pelo Governo, há muitos anos, a um estrangeiro e este farta-se de encher os bolsos, nada revertendo a favor  dos Salenses.
Fiz as contas e, uma vez que todos os dias chegam ao Sal sete vôos com turistas e que cada avião leva em média 200 pessoas, o total diário soma 1400, que multiplicado por 30 dias, dá 42.000 pessoas.
Sabemos que todos os turistas, em princípio. Vão às salinas, tal como eu fui com a minha família.
A entrada nas salinas custa 5 euros, mais 1 euro para o banho. Se fizermos as contas, rápidamente verificamos que, por mês, as salinas rendem para o bolso do estrangeiro 252.000,00 euros.
Se a isso juntarmos as despesas que os turistas fazem no restaurante do estrangeiro, nas salinas, fico com a ideia de que os governantes andam a dormir. O engraçado é que nada reverte a favor dos Salenses nem nada vai para a Câmara Municipal. Como Cabo-verdiano, entendo que as salinas são um recurso natural da ilha e que devem ser exploradas pela Câmara Municipal, devendo o dinheiro ser canalizado para os Salenses. 

Perguntei porque é que  a Câmara não recupera as Salinas à força, ou até atendendo ao seu manifesto interesse público. Foi-me respondido que não podiam fazê-lo por duas razões: 
1º A Câmara não tem Polícia Municipal. 2° A Polícia da Ordem Pública não colabora com o município, porque só recebem ordens do governo e a decisão da exploração das salinas partiu do governo, de quem dependem directamente. Dá que pensar...

Não querendo desmentir a referida senhora, posso afirmar que corri a ilha toda e não vi praia privada nenhuma na Ilha do Sal. O que me parece é que a senhora quis ter acesso à praia pelo hotel. Será? Temos que nos habituar a falar só daquilo que conhecemos e sabemos, para não revelarmos ignorância ou más intenções. 
Falou-se aqui de racismo – penso que está na hora de deixarmos esse chavão esquecido a um canto, porque já não faz sentido. Racismo deve haver sim, mas neste caso, talvez nas nossas cabeças.

Quanto à questão da gestão das Salinas de Pedra Lume, dizem que este novo governo prometeu devolvê-las ao Município de Espargos. Espero que seja verdade e, se assim for, haverá justiça de direito para os Salenses e será dado então um passo importante para a descentralização e desenvolvimento da Ilha do Sal. Se não acontecer cá estarei novamente com este assunto.

Ao Sr. Júlio Lopes, novo Presidente da Câmara Municipal de Espargos, peço coragem política  para tudo fazer, de modo a que as salinas passem para as mãos do município.


Adérito Barbosa in olhosemlente

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