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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Uma balança viciada pende sempre para o mesmo lado…

Uma balança viciada pende sempre para o mesmo lado…

Os cidadãos Portugueses não querem saber da vida privada do Juiz, nem se o seu filho vai entrar na Faculdade, se é ou não religioso, se foi ou não rato de biblioteca, se a mulher dele cozinha bem ou mal, ou se o pai era um homem bastante austero! Além disso, também não estão interessados em saber se ele é ou não pessoa de que alguém deva ter medo, se se levanta da cama todos os dias que nem um valentão, porque não tem medo, se não vai ao restaurante, se não tem amigos, se é escutado ou não. 

Não gostei de ouvir o Sr. Juiz na televisão, a dar entrevista sobre ele próprio, pois ele não é político, não foi, nem vai a votos e não é escrutinado como nos EUA se faz aos juízes - mas cá devia-se proceder igualmente!!! Insinuou que não tem amigos com contas bancárias em nome de outros, que conhece a corrupção portuguesa por dentro e por fora - topei a alfinetada, quando claramente disse: “Sou o saloio de Mação que não tem dinheiro em nome de amigos”. Para quem não ouviu à primeira e, para que não restassem dúvidas, repetiu que não tem dinheiro,  nem contas bancárias em nome de amigos e que também não tem "amigos pródigos".

Ficámos a saber que um alto magistrado, com competência para condicionar a vida dos cidadãos no âmbito dos processos que possam ir parar-lhe às mãos,  não observa o dever de isenção e equidistância. Misturou a condição específica de Juiz responsável, conhecedor de um determinado processo, com o papel e funções de um jornalista da CMTV, ou equiparado e veio  insinuá-lo como se estivesse a falar de futebol entre amigos, numa mesa do café  da esquina ao fim da tarde. 

Todos os Portugueses ficaram a saber que o Juiz de Instrução Criminal vive numa dificuldade tremenda, isolado de seus pares e sem amigos - coitado! Ficou-se a saber que para conseguir gerir as despesas, precisa de trabalhar quarenta e oito sábados, à razão de setenta e cinco euros por cada sábado.  

Fiquei quedo; pus-me a imaginar as famílias com o ordenado mínimo e as famílias que nem emprego têm.
Ouvi dizer que o Conselho Superior da Magistratura vai analisar a entrevista. Temo que o resultado seja o aumento significativo do salário ao Sr. Juiz. Quanto ao resto, o resultado será o praticado e definido pelas corporações como de costume, ou seja, não se vai chegar a lado nenhum.
Os cidadãos querem saber se um Juiz é ou não uma pessoa isenta e sensata, a quem se pode confiar a justiça. 

Pela entrevista que vi, fiquei com sérias dúvidas.

Adérito Barbosa in olhosemlente

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