poeta.adérito.barbosa.escritor.autor.escritor.artigos.opinião.política.livros.musica.curiosidades.cultura Olhosemlente

sexta-feira, 28 de março de 2014

Lisboa


 Lisboa,
 Nesta esplanada do teu ventre
 Rola a esfera de uma caneta.
 Quero engravidar-te
 Com os versos que te canto.
 Viajar na cauda do teu cometa,
 É um sonho que trilho faz tempo
 Escutar o choro leve de quem pariste
 No labirinto das tuas entranhas.


 Lisboa,
 Tens hálito a castanha assada
 Dormiste com o Tejo debaixo da ponte
 Beijou-te e não negaste
 Possui-te segredaram e sorriram
 E deste-te a ele sem pudor
 Como um puto que finta o esquema
 Na esperança de ficar com o brinquedo.
 Dá-me um abraço apertado,
 Fico a teu lado para espreitar o malandro
 Que nunca estrilha na esquina
 Sempre numa da sorte adiada
 Para te ver nua.

 Lisboa,
 Não sejas safada
 Tira o vestido e seduz-me
 Embriaga-me no cais esta noite
 Deixa-me ficar no calor dos teus braços
 A ver subir a maré nas tuas veias
 Já não tens voz de ardina
 Nem pregões nas manhãs
 Nem peixe frito nas tabernas
 Nem sarro nos copos de vinho
 Nem cacau da Ribeira.
 E ninguém bebe no chafariz.


 Lisboa,
 Já não tens magalas nem marujos
 Nem no eléctrico bilhete operário
 Já não há paródias dos boémios
 Nem sabes dos fados da Severa
 Nem histórias da guerra
 Das bocas ressacadas sabendo a papel

 Mas… ainda te excitas
 E gemes de prazer
 Quando o castiço
 Começa os preliminares
 Nas cordas da guitarra portuguesa.

Adérito Barbosa in "olhosemlente"
 28 de Março de 2014

2 comentários:

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...