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terça-feira, 18 de março de 2014

Vivas ao morto

Somos um país de católicos. Eu próprio fui educado numa instituição católica.
As missas eram tantas, tantas que mesmo que viva 100 anos não vou precisar de ir mais à missa, porque eu já alcancei a redenção. Falo disto, porque eu não acredito que haja mais alguma coisa depois da morte.
Ultimamente têm morrido algumas personalidades nacionais, tais como patriarcas, padres, políticos, escritores, artistas e pensadores.
Mas os pobres e os burros, que eu saiba, nem um morreu.
Quando morre um dos famosos, é uma seca. Vê-se fila interminável de colunáveis a perfilarem-se à porta das igrejas para aparecerem nos écrãs. Um dia destes, duas estações de TV sarnaram-nos a molécula o dia inteiro com elogios ao morto. Era cá uma ladainha do Camano.

 - Ele era uma pessoa superiormente inteligente, ele era sério, o país perdeu uma ave rara, ele era um génio, ele era assim, ele era assado, uma grande cabeça! E rematam no fim:
 - O país ficou mais pobre!
Com tanta gente genial a morrer, só posso concluir o seguinte:
- O país fica mais pobre e também com mais burros.
Acontece que foram esses génios todos que agora estão a morrer, um de cada vez, que tanta inteligência tinham, que levaram o país para o abismo.
Quando eu morrer, bem!...quando eu morrer nem quero acreditar que não vão dizer nada de mim:
 - Eh pá, graças a Deus, até que enfim que morreu um Zé-ninguém, um burro. Um acéfalo. O país livrou-se deste asno! Arre, ficamos mais ricos

Adérito Barbosa in "olhosemlente"

18 de março de 2014

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